11.7.07

Carácter, visão, ou "apenas" diplomacia?

Sou um admirador confesso de Henry Kissinger, muito tendo contribuído para isso a leitura do denso e interminável Diplomacia cujo ex-Secretário de Estado Americano é autor. Esta semana "tropecei" na Time (não é uma das minhas leituras preferidas) por culpa exclusiva de um artigo assinado por Alexander Brenner e que nos dá conta da mais recente das múltiplas visitas do outrora político norte-americano à China, uma país que o homem visitou mais de 50 vezes desde que, no distante ano de 1971 e em segredo, Zhuo Enlai concebeu, patrocinou e concretizou o encontro entre Nixon e Mao (olha que dois, para não dizer três ou mesmo quatro). Nesse artigo, Brenner dá-nos conta da admiração que os chineses, principalmente os jovens, têm por Kissinger. Que ele foi um político carismático e em certa medida decisivo; que ele foi (talvez ainda seja) um académico brilhante; que ele seja uma personalidade mundial incontornável e um homem de negócios arguto e bem sucedido, não restam dúvidas a muita gente minimamente informada. Agora que, principalmente os jovens chineses lhe atribuam sex-appeal, o considerem como uma das pessoas com um alto grau de comprometimento com o seu país (com base nas suas mais de 50 visitas à China, as últimas de negócios) e o venerem, até eu, um confesso admirador, fiquei perplexo, para não dizer que achei estranho. Passado o lado emocional da reflexão, fiz apelo do sempre útil pragmatismo e concluí que não era tão estranho assim. "Na cama que fizeres, nela te deitarás" e ele fê-la e continua a fazê-la bem. Concerteza não por causa dos lindos olhos dos chineses e sim para os os deixar de olhos em bico, apesar de em bico já serem. Não sei se é verdade, mas diz quem sabe que é para aquelas paragens que está o futuro e será daquelas paragens que o mundo será "governado". O brilhante, carismático mas obscuro Henry deve saber e deve usar, como poucos e como sempre soube, o seu carácter, visão ou apenas as artes diplomáticas de que ele é mestre. Aumentou a minha admiração por um dos mais sacanas e obscuros políticos do século XX.

2 comentários:

L. Rodrigues disse...

A China é uma questão bicuda.
A ascenção deles a potência política mundial, já que como económica é já inquestionável, vai depender da sua capacidade de liderança, que não me parece que queiram abraçar. Não é o género do império do meio sair de si para apontar o caminho aos outros.

Até cerca de 1700 a China foi a maior potencia económica do mundo. Entre outros factores foi uma enorme pressão ambiental que contribuiu para o seu colapso. Foi vitima do seu proprio sucesso, na ansia de capturar o ouro e prata que os europeus desenterravam das américas. Florestas e terra arável foram convertidas em colheitas para exportação, com enormes preços sociais internos.

Hoje o Sucesso da China prenuncia já enormes convulsões ambientais, mas que desta se arriscam a levar o mundo inteiro ao colapso.

Mike disse...

Concordo, mas parece-me que eu, tu e mais alguns se preocuparão com questões dessa ordem. O Henry acho que não, acho que as preocupações dele são outras, que não as ambientais. E acho outra coisa, não é preciso dar a cara e apontar o caminho aos outros para se "governar" o mundo.

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