25.7.07

Eu Carolina, a escritora.

Ontem, passava eu os olhos pelo jornal à hora de almoço sem fazer o mínimo esforço para o ler, mesmo as letras garrafais, aquelas grandes a que dão o nome de títulos, quando uma reportagem no âmbito do muito na berra processo do Apito Dourado fez com que o passar de olhos abrandasse o ritmo a que se tinha imposto por sua única e exclusiva vontade, já sem o meu controle, eu que sou o dono dos olhos por isso devia ter algum voto na matéria acerca da velocidade com que eles passam por aquelas avenidas desinteressantes a que alguns jornais dão o nome de parágrafos.
Sentado no meu canto, com o privilégio de ter só para mim uma mesa para quatro com três cadeiras vazias a fazerem-me companhia, tratei de decidir sobre as duas opções de leitura, ou melhor, de passar os olhos, que me eram simpaticamente oferecidas pelo senhor João. Tem aqui a Bola e o Correio da Manha. Não, não me esqueci do til, apenas escrevo da forma mais fiel possível a maneira como o nome desse jornal diário foi pronunciado pelo senhor João. E não pensem que ele também se esquecera desse sinal que serve para nasalar a vogal a que se sobrepõe. Se o Campeonato já tivesse começado, se fosse segunda-feira, se o Sporting tivesse jogado no dia anterior... Eram muitos ses, muitos sinais, demasiados, por isso havia que segui-los e, preconceitos para trás das costas, pré-juízos atirados às urtigas e aí vou eu em direcção ao Correio da Manha. As hipóteses de arrependimento eram nulas já que sabia ao que ia e tinha perfeita consciência do que me esperava. Achava eu...
Da Dra. Maria José Morgado havia pouco por onde passar os olhos, mas fiquei a saber que as comadres se zangaram, comadres não, as irmãs. Fiquei a saber mas não cheguei a perceber porquê. Isto tudo para chegar onde? A uma parte da entrevista da irmã famosa, a Carolina, a escritora de um best seller, onde a senhora dizia que “as intimidações têm sido feitas verbalmente, nunca por telefone”. Sem evitar o meu sarcasmo, dei-me logo por contente por ter decidido vestir, nessa manhã, uma camisa em vez de uma t-shirt. Assim o dito sarcasmo ficou-se entre mim e os meus botões, meus não, dela. Depois pensei, espera aí Mike, estás a rir-te de quê? isto ainda está a léguas do troce, troce, troce tudo para a isquerda, controla a rotunda ali à frente, há-dem ver que a gente vamos lá chegar e mais os portantos e os prontos. E vais ver, meu otário, que a Carolina se referia a mensagens escritas, aquelas que tu também mandas do telemóvel. Não percebes nada. Olhei em meu redor e encolhi-me, meio envergonhado por ter parodiado, mesmo que com os meus botõs, ainda assim com a sensação estranha de ter olhares inquisidores sobre o meu sarcasmo despropositado.
Livra... dei corda solta aos olhos e deixei que o passar deles sobre o jornal retornassem à velocidade inicial.

1 comentário:

CPrice disse...

.. eu a rir-me e a pensar que a vontade tem por vezes vontade própria .. ;).. e na silly .. vale tudo! ou quase ..
dia bom

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