17.7.07

Touché!

Habituei-me a tirar partido e a usufruir do tempo que o trajecto diário entre escolas e casa nos impõe, com o trânsito uns dias colaborante, mas na maior parte das vezes impondo-nos uma rotina desesperante. Os culpados dessa boa nova foram, e continuam a ser, os meus 2 filhos mais novos. Aproveitamos para conversar muitas vezes e sucumbimos à discussão grande parte delas. Mas rimo-nos as vezes suficientes. Numa dessas viagens, a mais velha dos mais novos enveredou por um caminho, também ele habitual, sendo filha de pais divorciados: tirar proveito dessa condição. Não me recordo qual o tema que serviu de mote ao debate mas jamais me esquecerei do que ela, uma menina de 9 anos, me disse e que quase deu, eficaz e implacavelmente, por finalizado o diálogo. Também me lembro que durante a conversa entre nós, fiz uso (na altura achei que, não só era apropriado como poderia contribuir para a tornar construtiva) do facto de muitos colegas serem, tal como ela, filhos de pais divorciados. Igualmente me recordo de tentar fazer-lhe ver, interessada e preocupadamente, os lados positivos da questão, seguindo os conselhos de muitos psicólogos. Bom, mas o que interessa foi o que ela, a certa altura, me disse quando estava eu exactamente nessa fase da conversa, essa dos lados positivos. “Pois, está bem pai, mas eu e o mano não vos pedimos (aqui ela incluíu, numa mostra de maturidade que eu pensava não existir, a mãe) nada dessas “coisas positivas”. Vocês é que decidiram separar-se, nós estávamos muito bem como estávamos e passávamos bem sem as tais “coisas”. Touché! Ou melhor, à boa maneira portuguesa, toma lá e vai buscá-la. O meu papel de pai, ou pelo menos como eu o vejo e encaro, impeliu-me a continuar a conversa, também já não me lembro com que argumentos. Mas lembro-me bem que me sentia em nítida infrioridade. Porventura nesse final de tarde não fui capaz de esconder a tristeza que chegou de braço dado com a preocupação. Bem no final do dia estava reservada mais uma lição a um homem que se considera um bom pai (seja lá o que isso signifique). E dada pela mesma menina que, atenta à tal tristeza (logo desde pequenas mostram que têm o atributo da atenção mais apurado que nós homens), aproveitou o momento a sós quando me aprestava para lhe dar o beijo de boas noites, já ela deitada, para me dizer algumas coisas de que me lembro bem. Como também me lembro muito bem que nessa noite me deitei e adormeci bem mais tranquilo, já com a tristeza a deambular por outras paragens que não as minhas. Uma coisa é certa, daí em diante passei a ter muito mais cuidado com o que digo, principalmente a ela. Por mais informado que esteja, por mais livros e artigos que leia sobre o assunto. Livra, que lições, logo duas, que eu, um pai babado (onde é que já li isto?), levei nesse dia... Abençoada menina.

5 comentários:

CPrice disse...

comovente mike .. (e sinceramente não tenho mais palavras, pelo menos, por agora) ..

José, o Alfredo disse...

São as clientes mais difíceis de satisfazer (as crianças), mas também as únicas que valem mais que o trabalho que dão. E muitas vezes ainda conseguem ter piada, mesmo quando nos deixam nesses estados tocados...

Mike disse...

Once, não se preocupe com as palavras, acontece aos melhores :)
Na altura não fiquei sem palavras mas devo ter dito uma "catrefada" de banalidades.

Fiquei no estado que referes, José... um estado tocado (risos). Na altura o toque deixou as suas mossas mas à noite a pequena "mecânica" consertou com mestria.

Karga Junior disse...

Isso lembra-me a história, infelizmente verdadeira, da neta que pergunta à avó se ela e o avô eram pobres... porque viviam os dois na mesma casa!!! Pois, os pais e restantes adultos que conhecia, todos divorciados, cada um tinha a sua casa.
Lembro-me como eramos crueis na escola com um miudo que, "coitado", tinha pais divorciados!!!

Mike disse...

Bem vindo à desconversa, caetas. Já me ri com a história dos avós. Felizmente as mentalidades vão mudando. Hesitei muito em usar este "felizmente", mas como o contexto é o das mentalidades, avancei. Em relação ao resto a palavra não se aplica.

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