10.2.08

Objectos de culto (II). Um ritual simples e aprazível.

Tirava-se o LP da capa, punha-se o vinil no prato, pegava-se cuidadosamente no braço, como quem segura graciosamente o braço de uma senhora antes de iniciar uma dança, virava-se a patilha para o lado que se queria (78, 33 ou 45 rotações) e, cuidadosamente, pousava-se a agulha no sulco do disco. O resto era o desfrutar do som gordo e amigo, muitas vezes com uns estalidos e chiado à mistura. Igualzinho à vida. Nesta desordem que chamamos progresso, foi-se o vinil. Digitalizámo-nos e somos vítimas das “armas espertas” daqueles que manobram a tecnologia das indústrias. Já vamos no MP3, nome que bem define o torpedo arrasador que nos acabou com a vida. Já nem falo das capas dos LPs, uma arte que também acabou. Até as capinhas dos 45 rotações, agora chamados singles, como correctores safados registados com nome falso num motel de segunda, até elas davam para virar arte, bastando para tal imaginação e engenho. O vinil está de volta? Ainda bem! Os DJs nunca chegaram verdadeiramente a virar-lhe as costas... pode ser que um dia possamos ter de volta Artie Shaw, Charlie Parker, Sarah Vaughan...

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